sábado, 11 de dezembro de 2010

50 ANOS DE "MISSA"



Por Gildo Monteiro Júnior
Professor de Sociologia, Ensino Religioso e Arte do Colégio Dom Bosco

Caruaru, 11 de dezembro de 1960. Um jovem de 26 anos aguardava com ansiedade a realização de um sonho, que plasmou para si como seu maior projeto de vida. Receberia um grande presente, mesmo reconhecendo suas limitações humanas para algo tão nobre. Faria um encontro definitivo com o seu Senhor e dele seria portador das suas graças. Era o Frei carmelita Paulo Cardoso da Silva que, após anos de preparação em sua congregação, prostrava-se diante do altar da antiga Catedral de Nossa Senhora das Dores, sob o cântico da Ladainha de todos os santos, como sinal da sua entrega amorosa a Deus, que continuamente nos chama e envia.
Nascido aos 19 de outubro de 1934, em Caruaru, tendo recebido o batismo 11 dias após o seu nascimento, Paulo Cardoso da Silva foi, desde cedo, motivado interiormente para seguir a sua vocação. De uma família notadamente católica, o filho de Antonio Cardoso da Silva e Antonia Maria de Melo foi animado por um frade carmelita a ingressar no Carmelo junto com o seu irmão. Ali se iniciava a grande saga desse nordestino que viria a se tornar, anos mais tarde, um sucessor dos Apóstolos.
Na Ordem Carmelita, emitiu a profissão simples no dia 13 de fevereiro de 1955 e a profissão solene no dia 22 de fevereiro de 1958. Após a sua ordenação sacerdotal, foi Provincial Eclesiástica Carmelitana, de 1981 a 1984. Na função de padre, Dom Paulo começava a cultivar com eficácia os frutos do Concílio Vaticano II, que iam se tornando mais frequentes na atuação pastoral. Fundou escolas e cooperativas em Camocim de São Félix, pondo em prática a sua área sociológica de formação e a especialização em cooperativismo que havia feito em Israel.
Mas Deus tinha voos mais altos para esse padre nordestino. Para sua surpresa e tendo em vista o bem da Igreja, o Papa João Paulo II o nomeou bispo em 30 de novembro de 1984, como seu irmão Dom José Cardoso, que já assumia a Sede Metropolitana de Olinda e Recife. Escolheu como o dia de sua sagração episcopal o dia de São José (19.03.1985) e sua posse como sexto bispo de Petrolina em outra festa de São José, esse como operário, no dia 1º. de maio de 1985. Chegara, enfim, à plenitude do sacerdócio ministerial.
Sua chegada em Petrolina foi muita aguardada e preparada. A presença marcante da população o encheu de coragem, animando-o a doar-se inteiramente ao seu rebanho, sem fazer reservas de si mesmo. O seu empenho pastoral e sua jovialidade impressionante, manifestada principalmente durante as romarias, deixam de queixo caído até os considerados “frágeis”. O amor à causa do pobre, a simplicidade, as palavras firmes e escolhidas para cada ocasião e uma exímia vida de oração delineiam a identidade do nosso pastor.
Chama-nos a atenção o dia 14 de agosto de 2008. Era a véspera da festa da padroeira, a Rainha dos Anjos. Dom Paulo sempre assume a tarefa de presidir a celebração, que marca o aniversário de Dedicação da Catedral. Após a oração eucarística, após a doxologia, é acometido de um súbito desmaio, no altar da Igreja. Deu para ouvir do rádio o grito do comentarista: “Dom Paulo!”. E ele, na manhã do dia 15, já estava lá, celebrando e brincando com o ocorrido: “É, se eu tivesse morrido, tinha sido até num dia bonito!”
Animado pelo Espírito e guiado pela Mãe de Deus, a Virgem do Carmelo, Dom Paulo Cardoso assumiu, essencialmente, duas linhas de trabalho em nossa Diocese: o aumento das vocações sacerdotais, constituindo o SAVM (Serviço de Animação Vocacional Missionário) e a retomada da dimensão missionária da Igreja Diocesana, inspirando-se no grande amigo e missionário do Nordeste, Frei Damião, e no próprio carisma missionário carmelitano. Com os jubileus, os Congressos Missionários, as romarias, preparados e convocados por ele com carinho, a Diocese de Petrolina se une mais diretamente ao pastor e conhece melhor a vocação para a qual fomos chamados. Mas, a sua grande alegria foi poder ser o condutor da grande causa da Diocese de Salgueiro, que desde 1993 foi sonhada e apenas erigida no dia 12 de outubro desse ano, com a chegada do seu primeiro pastor.
“Tu és sacerdote eternamente”. (Salmo 110, 4) Parabéns, Frei Paulo. O povo de Petrolina se sente honrado por sua dedicação, seu amor constante e visível a Deus e à Igreja e por ter assumido com ardor a causa do menos favorecido. Que o Senhor da Vida e da história o recompense e Maria, a Virgem Rainha dos Anjos, o inspire a continuamente corresponder com os desígnios do Pai.